Uma bebê de aproximadamente 35 semanas, encontrada congelada em uma geladeira no início da semana, em Belo Horizonte, teria nascido com vida há cerca de um ano, segundo investigações da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) divulgadas nesta quinta-feira (2/12). A mãe da criança, de 30 anos, foi presa em flagrante, ontem, pelo crime de ocultação de cadáver e deve responder também pelo homicídio.
De acordo com o delegado responsável pelo inquérito, Alexandre Fonseca, do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o exame necroscópico do Instituto Médico Legal Dr. André Roquette (IMLAR) atestou que não se tratava de um feto, e sim de uma criança.
“O exame foi contundente em demonstrar que a bebê nasceu com vida, era saudável, com pulmões plenamente formados”, revela. “Ainda aguardamos exames complementares, mas a hipótese é que ela poderia ter morrido em consequência do sangramento pelo cordão umbilical, que não foi amarrado, ou até mesmo por hipotermia”, completa Fonseca.
A mulher investigada pelo crime, natural da Bahia, prestou declarações no Departamento, quando teve a prisão em flagrante ratificada pela ocultação do corpo. O subinspetor Arnaldo Gomes explica que ela apresentou três versões diferentes sobre os fatos, sendo a última a mais provável. “Apesar de, no momento do depoimento formal, ela ter se reservado o direito de ficar em silêncio, as entrevistas conduzidas anteriormente pelo corpo de investigadores do DHPP podem sim ser usadas como prova”, destaca.
Versão
A suspeita alegou à polícia que desde que descobriu a gravidez não queria dar à luz o filho, supostamente por já ter outros dois, com pais diferentes. No dia do crime, há mais de um ano, ela buscou, na região do Centro de Belo Horizonte, por um fornecedor ilegal de abortivo em comprimido. Depois da transação, ela se instalou em um hotel próximo ao Mercado Central e fez uso do medicamento.
Ainda em entrevista, a mulher disse que passou mal e só se recorda de ter acordado com a criança já nascida. Imediatamente, ela recolheu a placenta e a descartou pelo vaso sanitário do quarto. Sem saber o que fazer com a criança, envolveu-a em uma cinta pós-cirúrgica — que usava na região abdominal para esconder a gravidez — e depois a embalou em vários sacos plásticos. A investigada disse também que sentia medo de represálias de traficantes da região onde morava, caso descobrissem o crime, e, por isso, ocultou todos os vestígios no apartamento do hotel.
“Posteriormente, a mulher pediu a uma vizinha, no bairro Flávio Marques Lisboa, região do Barreiro, que guardasse o embrulho com o corpo, dizendo que era um ‘pedaço de carne´”, informa Alexandre Fonseca. O delegado ainda chama a atenção ao fato de a senhora em questão ser inocente de participação no crime. “Ela, de fato, não sabia o que havia naquele embrulho e, por a investigada supostamente não ter geladeira em casa, acreditou na versão dela”, esclarece.
Crime permanente
Na última terça-feira (30/11), a vizinha chegou a enviar mensagens à investigada informando que precisava liberar espaço no congelador, de acordo com o depoimento que apresentou à polícia. Segundo ela, resolveu abrir o plástico e se deparou com o pé da criança. “Assustada, sem saber como agir, ela ligou para o pastor local, que também é policial militar reformado, o qual acionou a corporação para as providências cabíveis”, ressalta o delegado.
A suspeita foi detida pela Polícia Militar, na quarta-feira (1/12), e encaminhada ao DHPP, onde foi autuada em flagrante por ocultação de cadáver. Alexandre Fonseca lembra que o crime é permanente. “Ou seja, mesmo tendo ocorrido há mais de um ano, com o encontro do corpo, existe uma situação de flagrante”, pontua.
As investigações seguem em andamento e, ao final do inquérito policial, a mulher pode ser indiciada também pelo crime de homicídio.