21 de novembro, 2024

Foto: Adair Gomez

Centro é o único serviço público do Brasil a adotar técnica de inativação de patógenos

Atenta à necessidade de aperfeiçoar a segurança transfusional, em decorrência da ameaça constante de novos agentes infecciosos, bactérias e outros germes para os quais não existem testes laboratoriais, a Fundação Hemominas está implantando a Técnica de Inativação de Patógenos (TRP). O método, que inibe os patógenos no sangue antes da transfusão, é utilizado em países como Suíça, França e Bélgica em 100% da produção de concentrados de plaquetas.

A novidade foi apresentada em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (23/12), que contou com a presença do secretário
de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, da presidente da Hemominas, Júnia Cioffi, entre outros.

“É um grande prazer estar aqui na Hemominas conhecendo esta nova etapa no processo de preparação dos hemocomponentes. Esta é uma técnica inovadora e pioneira no Brasil, que vai trazer mais segurança no processo transfusional. Com certeza, o mineiro pode continuar se orgulhando em receber hemocomponentes de excelente qualidade”, destacou o secretário. Baccheretti fez questão de parabenizar todos os servidores que participaram do processo.

A técnica aumenta a segurança do procedimento, principalmente em relação à mais comum reação transfusional de plaquetas: a transmissão de bactérias, que pode ser fatal, especialmente em pacientes imunossuprimidos. Esse grupo engloba, por exemplo, aqueles que recebem tratamento quimioterápico ou que passaram por transplante de medula óssea.

Aprovada para uso em toda a Europa, em 2002; nos Estados Unidos, em 2014, e no Canadá, em 2018, a TRP permite a redução da transmissão bacteriana e também a inativação de agentes endêmicos como coronavírus, dengue, zika, chikungunya, malária e febre amarela.

Com a inovação, a Hemominas se torna o único serviço público do Brasil a adotar o método, oferecendo à população mineira mais segurança. Além de melhorar a qualidade do processo transfusional, a inativação de patógenos também impacta o aproveitamento dos estoques de plaquetas, aumentando de cinco para sete dias a vida útil desse produto.

“O nível de segurança que a Fundação Hemominas está oferecendo é um marco para a história transfusional em Minas e no Brasil. Estamos demonstrando que é possível oferecer à população o que há de melhor e mais seguro”, afirma a diretora técnico-científica da Fundação Hemominas, Maísa Ribeiro. Outro benefício apontado pela diretora é que os componentes plaquetários com redução de patógenos terão o mesmo valor de cobrança dos elementos não inativados.

De acordo com a bióloga da Gerência de Controle de Qualidade da Hemominas, Gabriela Rezende, a TRP é uma das técnicas mais modernas do mundo em inativação de microrganismos. Sem contar que vai ajudar a fundação a manter estoques e a melhorar a capacidade de atendimento. “Com maior vida útil, teremos mais sangue para oferecer à população”, lembra.

A bióloga destaca que a hemoterapia requer melhoria constante quanto à segurança transfusional, necessidade que se tornou muito evidente com as frequentes epidemias enfrentadas nos últimos anos. “Diante da impossibilidade de se testar o sangue dos doadores para todos os agentes infecciosos, existe um risco residual transfusional que nunca é totalmente zerado pelos procedimentos habituais dos serviços de hemoterapia” detalha.

“A inativação dos patógenos surge como solução, por ser uma resposta proativa às ameaças infecciosas, combatendo mesmo aquelas emergentes e desconhecidas e aquelas para as quais não existem testes laboratoriais na triagem do sangue doado”, completa.

Entenda

As tecnologias de redução de patógenos (TRP) atuam basicamente na alteração dos ácidos nucleicos dos microrganismos, sejam vírus, bactérias ou parasitas que poderiam estar presentes nos hemocomponentes. O procedimento faz com que esses agentes deixem de se replicar, tornando o hemocomponente tratado um produto seguro quanto ao risco de transmissão de doenças infecciosas.

Por mais eficazes que sejam os métodos de testagens laboratoriais, ainda não se conseguiu eliminar a janela imunológica – período entre a contaminação de um indivíduo e o aparecimento da positividade do teste diagnóstico, seja este sorológico ou molecular. Assim, uma bolsa de sangue, mesmo testada pelos métodos mais modernos, tem sempre um risco residual de conter algum agente infeccioso.

A inativação de patógenos elimina a janela imunológica ao inativar os microorganismos. Adicionalmente, a tecnologia também causa a inativação de leucócitos residuais nas bolsas de concentrado de plaquetas, sendo um produto similar aos irradiados com Gama.

A presidente da Hemominas agradeceu ao Governo Estadual e à Secretaria de Estado de Saúde que se sensibilizaram quanto à importância dessa inovação para a saúde pública, investindo cerca de R$5 milhões na implementação do projeto. Ela destacou, ainda, que todo esse processo só pode ser realizado com a solidariedade dos cidadãos mineiros para a doação de sangue: “Atualmente estamos com os estoques razoáveis, com necessidade de comparecimento de doadores dos grupos O positivo e A positivo e todos os demais negativos”, lembrou.

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