22 de novembro, 2024

Infecção também pode atingir recém-nascidos e crianças e causar sérios problemas

A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, com um crescente número de notificações. A infecção atinge principalmente adultos, mas também recém-nascidos e idosos. Em plena pandemia da covid-19 em 2021 – enquanto a procura por internações hospitalares relacionada a outros motivos caiu consideravelmente – somente no Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), foram notificados 183 novos casos de sífilis. A unidade faz parte do projeto estratégico de enfrentamento à doença e apoia as regionais do Barreiro e Venda Nova, em Belo Horizonte, para discussão de casos e alinhamentos técnicos com profissionais de saúde da atenção primária. 

“É uma epidemia silenciosa, com um imenso número de portadores, a maioria sem sintomas e com possibilidades de transmitir a doença, o que nos mostra a importância do uso de preservativos durante as relações sexuais – já que esta é a principal forma de evitar a infecção pela sífilis e outras patologias”, afirma o infectologista do HEM João Gentilini Fasciani de Castro. 

A gerente assistencial da unidade, Tatiani Fereguetti, faz um alerta e reforça a importância da popularmente conhecida “camisinha”. “Tivemos um aumento exponencial no número de casos e nas taxas de reinfecção na última década, o que, provavelmente, aponta para a baixíssima adesão ao uso de preservativos, especialmente em práticas sexuais orais. É importante lembrar que a sífilis, nas fases iniciais, é muito contagiosa e pode ser facilmente transmitida pelo contato sexual ou até mesmo por beijo na boca”, explica. 

De acordo com o infectologista João Gentilini, os exames sorológicos são fundamentais para o diagnóstico e o tratamento precoces, quebrando a cadeia de transmissão tanto da sífilis adquirida (por contato sexual ou transfusão de sangue) quanto da sífilis vertical, quando é passada da gestante para a criança. 

Sintomas 

Ainda segundo o infectologista, os sintomas variam de acordo com os diferentes tipos da infecção. No caso da sífilis primária, as primeiras manifestações podem ocorrer, em média, três semanas após o contato sexual infectante, com uma úlcera ou erosão no local de entrada da bactéria. “Chamamos de cancro duro e é geralmente única e indolor, podendo vir acompanhada de uma íngua inguinal. Este estágio pode durar de duas a seis semanas e desaparecer de forma espontânea, ou seja, independentemente do tratamento”, explica o infectologista. 

Na sífilis secundária, os sinais surgem, em média, entre seis semanas e seis meses após a infecção e duram de quatro a 12 semanas. Neste caso, o médico afirma que os sintomas podem desaparecer também de forma espontânea em poucas semanas. “Podem ocorrer erupções cutâneas em forma de máculas ou pápulas, acometendo o corpo, podendo atingir os pés e as mãos. E, também, febre, mal-estar, dor de cabeça, desânimo e aumento de ínguas”, relata Gentilini. 

Já a fase terciária pode apresentar seus primeiros sintomas de 2 até 40 anos depois do contágio. A manifestação ocorre por meio de inflamação e destruição dos tecidos, podendo acometer a pele, os ossos, o cérebro e o coração. É o caso também da neurosífilis, que compromete o sistema nervoso central, podendo ser observado já nas fases iniciais da infecção. 

De mãe para filho 

A neonatologista e gerente assistencial da Maternidade Odete Valadares (MOV), Luciana Grizze, explica que a sífilis congênita é transmitida por meio da corrente sanguínea da gestante infectada para o feto, pela placenta ou, em alguns casos, por contato direto com a lesão genital no momento do parto. “Geralmente, a infecção se dá quando a mãe não é testada para sífilis durante a gestação ou quando não foi tratada adequadamente antes ou durante a gravidez”, ressalta. 

A chamada transmissão vertical vem crescendo de forma preocupante e pode ser precoce, surgindo até o segundo ano de vida, ou tardia, apresentando os primeiros sintomas após essa idade, podendo atingir diversos órgãos e sistemas. “Apenas os casos mais graves, que são minoria, de recém-nascidos vivos com sífilis apresentam sintomas ao nascer. Porém, quando tardia, e não diagnosticada ou adequadamente tratada, pode causar perda auditiva, alterações na pele, ossos, dentes e olhos (coriorretinite, glaucoma secundário, atrofia do nervo óptico), atraso no desenvolvimento, crises convulsivas, entre outros problemas. Por isso, é fundamental o diagnóstico e tratamento clínico prolongado e mais detalhado dessa criança, com acompanhamentos frequentes do pediatra, avaliação oftalmológica, audiológica e neurológica”, afirma a gerente. 

Luciana ressalta ainda que a doença pode também ser causa de aborto espontâneo, prematuridade, baixo peso ao nascer (menor que 2,5 kg), hepatomegalia (fígado aumentado de tamanho), esplenomegalia (baço aumentado de tamanho), atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, manchas na pele, icterícia, anemia, anormalidades ósseas, meningite e pneumonia. 

Esses problemas podem ser prevenidos com o adequado pré-natal realizado pela mãe, seguido de tratamento durante a gestação, quando diagnosticada a infecção, além do tratamento dos seus parceiros sexuais. 

Diagnóstico 

A sífilis tem cura e as unidades básicas de saúde possuem o chamado teste rápido, com resultado apresentado em minutos, que detecta também hepatite C, B e HIV. Quando diagnosticados, os pacientes são tratados com uso de antibióticos. 

No caso da sífilis congênita, quando os sintomas ainda não surgiram, o diagnóstico exige a combinação da suspeita epidemiológica (histórico materno de sífilis, seu tratamento e seguimento na gravidez), avaliação clínica do recém-nascido ou da criança e testagem sanguínea. 

 

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