Reviravolta no caso do idoso, de 62 anos, que foi preso em Montes Claros suspeito de abusar de duas netas. O caso veio à tona na quarta-feira (23), quando uma das vítimas, que hoje tem 26 anos, quebrou o silêncio após saber que a irmã mais nova, uma adolescente de 15, também teria sido abusada pelo idoso. A mulher teria sido abusada pelo suspeito que avó dela, dos 12 aos 16 anos, mesma idade da irmã.
Após fazer a denúncia e o caso ganhar repercussão na cidade, a vítima passou a receber ameaças da própria família. Em entrevista ao Portal Gerais News ela afirmou que só teve apoio de amigos, e nem mesmo o pai dela concordou com a denúncia contra o avô.
Todo dia é uma ameaça diferente, uma afronta diferente. A mulher que prefere não se identificar diz que as ameaças são dos próprios familiares. As intimidações estariam acontecendo após ela e a irmã confirmarem para a polícia que foram abusadas pelo avô.
“Desde a data a gente nunca mais teve paz. A gente não ‘tá’ tendo apoio de ninguém da família, ninguém da família ficou do nosso lado, todo mundo ‘tá’ contra gente. Eu ‘to’ tendo apoio de pessoas da rua, qualquer outra pessoa que eu possa contar, mas ‘pessoas que diz’ ser parente mesmo, nenhuma”, desabafou.
Segundo a vítima, o avó quem teria tirado a virgindade das duas. Além disso, na rotina da mais nova era comum momento de importunação sexual por parte do idoso.
Após as denúncias, o idoso foi preso e autuado em flagrante. Ele foi encaminhado para o presídio regional da cidade. segundo as vítimas, os familiares não concordam com a prisão do suspeito.
“Desde o dia 23 eu tive a conclusão que eu não tenho mais parentes. Eu não tenho tio, eu não tenho tia, é… Eu não tenho pai. São pessoas que deveriam estar do meu lado e me apoiando, não só a mim, como minha irmã, também, porque o que ele fez ele tem que pagar. E eles, querendo ou não, ele vai pagar pelo que ele fez”, afirma.
A mulher conta que antes da denúncia ela teria conversado com o avô e pedido a ele que não fizesse com a irmã o que fez com ela, mas nem isso teria evitado que o idoso abusasse da adolescente.
“Eu cheguei nele e conversei com ele. Falei com ele para ele nunca mais tocar em nenhuma; que eu não o colocaria na cadeia. Mas se ele tocasse a mão na minha irmã, eu o colocaria na cadeia sim. E foi o que ele fez. Eu jamais iria fazer o que eu fiz se fosse mentira. Por qual motivo eu queria prejudicar ele? por nenhum outro motivo se não fosse pelo que ele fez”, finalizou.
A mulher diz que registrou mais de um boletim de ocorrência contra as ameaças. A Polícia Civil informou que as irmãs devem procurar a delegacia novamente e relatar as intimidações, já que, segundo a civil, o crime de ameaça depende de representação da vítima para que uma investigação seja feita.
Na tarde desta quinta-feira (24), a delegada responsável pelo caso, karine Maia, concedeu entrevista coletiva falando sobre o caso.
O que pensa o Portal?
Nessa perspectiva, enfrentar a violência sexual requer a cooperação de vários setores, como saúde, educação, assistência social e justiça criminal. Os órgãos de segurança pública e de saúde devem ampliar a atenção e a segurança a toda a população e enfatizar a prevenção, garantindo que as vítimas de violência tenham acesso a serviços e apoio adequados, principalmente quando não tem amparo familiar como é o caso dessas duas irmãs.
Quando se fala em estupro, a primeira imagem que vem à mente é a de um homem desconhecido que força, através de agressões ou armas, a mulher à relação sexual. Mas a verdade é que na maioria dos casos de abuso acontecem sem uso de força física: a relação sem consentimento se dá através de violência psicológica, como chantagens ou ameaças, ou fazendo uso de uma relação de poder. Dados mostram que a maioria das violências são cometidas por alguém conhecido da vítima. O que indica que é dentro de casa que a maior parte dos abusos acontece. Nos casos de abusos de crianças, as famílias têm dificuldade para identificar o abuso, porque acreditam veemente que o autor não seria capaz.
Como denunciar?
A mulher pode ir à uma delegacia para registrar o B.O e fazer a denúncia. De preferência, uma delegacia da mulher, que terá um atendimento especializada e mais acolhedor. Isso para os casos em que a violência sexual está descrita em lei. Em Montes Claros pode procurar aDelegacia Especializada de Atendimento à Mulher que está localizada na Rua Enor de Brito, 222, Morada do Sol.
É preciso levar um documento de identidade e, se for menor de idade, deve estar acompanhada de um responsável ou qualquer pessoa maior de idade. Se necessário, a defensoria pública pode fazer parte da mediação do atendimento com menores de idade, principalmente quando a vítima não tem apoio da família.
Na delegacia, a mulher receberá um guia para fazer o exame de corpo de delito em um hospital conveniado ou no Instituto Médico-Legal. Nesse atendimento, ela receberá medicamentos contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), se for necessário.
A denúncia é o único caminho para abrir um processo criminal, que investigará o caso e punirá o autor do crime, se essa for a decisão final de um juiz.
Uma resposta da justiça para esses casos é uma forma de contribuir com a recuperação psicossocial da vítima, que terá uma ação do estado contra a violência. É também uma mensagem para a sociedade. Se esses agressores não são punidos, cada vez fica mais difícil as pessoas entenderem que esse crime é extremamente violento, cruel, e que precisa ser combatido.