A Polícia Civil concluiu o inquérito do homicídio do advogado Alexandre Mauro Barra Oliveira, de 34 anos. A vítima desapareceu no dia 13 de dezembro em Montes Claros e o corpo foi encontrado concretado, no quintal de uma casa, uma semana depois. Cinco envolvidos foram indiciados e estão presos. O crime tem ligação com dívida de agiotagem e foi planejado pelo melhor amigo do advogado.
De acordo com a Delegada Francielle Drumond, o homicídio foi triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel, emboscada e por recurso que dificultou a defesa da vítima. “Todos esses autores estão presos temporariamente e será representada a conversão da prisão temporária deles em preventiva. A Polícia Civil também apurou que o advogado foi morto no dia 13 de dezembro no dia do seu desaparecimento. Ele foi atraído por meio de emboscada até uma residência no bairro Carmelo. Lá já estavam presentes mais três pessoas envolvidas no crime”, explica.
Ainda segundo a Delegada, os autores colocaram um cinto no pescoço de Alexandre que foi enforcado, e eles ainda desceram com o corpo arrastando pela escada do segundo andar do imóvel.
As investigações apontam que a motivação está relacionada com agiotagem, e o mentor de todo o crime seria o Fernando Maierry Rodrigues da Silva, de 35 anos, que era amigo pessoal de Alexandre e fazia a intermediação dos empréstimos para os envolvidos e para outras pessoas. Segundo a PC, Fernando era responsável por colocar juros abusivos. Ele pegava o empréstimo com Alexandre a juros de 10% a 20% e repassava a juros maiores de 40%. Ele foi o responsável por influenciar todos os outros envolvidos a matar o Advogado e com isso ele poderia abater algumas dívidas e ficar com os valores devidos.
Dos quatro envolvidos, três deviam quantias ao Alexandre. Um não foi apurado nenhuma dívida. O Fernando teria chamado Thiago Silva Vieira, de 26 anos, para colaborar com a morte de Alexandre e ele que é o único que não devia iria ficar com todo dinheiro que ele tinha na conta, inclusive, no dia do homicídio ele tentou desbloquear a tela do celular da vítima usando o rosto dele já morto, mas não conseguiu fazer as transações. Thiago também ficaria com o dinheiro do carro de Alexandre que seria vendido para um desmanche. Fato que não ocorreu, pois tiveram desacerto com relação aos valores do carro que acabou sendo abandonado em um motel. Diante de toda essa situação, para não ficar no prejuízo, Thiago apossou das joias da vítima e revendeu.
O outro envolvido, Edson Gonçalves de Assis Filho, de 28 anos, seria o dono da casa onde Alexandre foi atraído e sofreu a emboscada. Alexandre foi atraído por Fernando na justificativa de que Edson abateria parte da dívida com uma televisão. Chegando à casa, o Alexandre e o Fernando foram rendidos pelo dono do imóvel e por mais dois envolvidos, o Jhordey Billy Soares Cardoso, de 28 anos, que foi vítima a princípio da tentativa de queima de arquivo, e por Thiago Vieira. A rendição de Fernando não passava de um teatro para que Alexandre não desconfiasse do seu envolvimento.
As investigações apontam ainda que Alexandre implorou para viver e teria oferecido dinheiro e casas aos envolvidos. Edson devia cerca de 200 mil reais devido aos juros altos. Ele teria pegado 55 mil reais e o pagamento de juros por dia era de 300 reais. Jhordey Billy devia 40 mil reais de uma dívida de 3 mil. Ele era considerado o mais fraco entre todos, caso a polícia chegasse até ele, por isso quando ele foi identificado pelo pedágio ele foi vítima de uma tentativa de queima de arquivo. O quinto envolvido, Marcos Paulo Barbosa Gonçalves, de 28 anos, devia 35 mil e teria emprestado a casa onde o corpo foi ocultado.
O Advogado Emerson Cordeiro é responsável pela defesa de Thiago Vieira. Ele afirmou que a equipe de defesa técnica tem se empenhado na busca de toda a verdade dos fatos, e neste sentido está absolutamente convencido da ausência da participação do seu cliente no bárbaro crime que chocou a região. Acrescentou ainda que assim como Alexandre, Thiago foi atraído por Fernando à cena do crime e quando se deparou com a situação não teve mais opção de sair do local e foi obrigado a assistir toda a barbárie.
Segundo o Advogado Moíses Lacerda, defensor de Fernando, ” a defesa técnica também tem acompanhado ativamente os atos de investigação encabeçados pela 3ª Delegacia de Polícia desta comarca. O nosso cliente já prestou declaraçoes e esclarecimentos perante autoridade policial, bem como contribuiu com as investigações até onde pode e até onde tinha conhecimento. No entanto, a defesa encontrou sensíves contradições presentes na investigação que só poderão ser esclarecidadas durante a instrução probatória onde a defesa poderá se valer de forma mais efetiva dos instrumentos da ampla defesa e do contraditório”, finalizou.
Relembre o caso
Atualização sobre o corpo do advogado criminalista, Alexandre Mauro Barra Oliveira, de 34 anos, que foi encontrado enterrado no quintal de uma casa, na noite desta segunda-feira Em Montes Claros. Na manhã desta terça-feira (20/12), as Polícias Civil e Militar concederam uma entrevista para falar sobre o caso.
Segundo a Polícia Civil, os criminosos teriam concretado a vala onde Alexandre foi encontrado. O advogado estava desaparecido desde o dia 13 de dezembro. A polícia chegou até o local, após prender 3 homens suspeitos de participação na tentativa de homicídio de um motorista por aplicativo, de 28 anos. A vítima contou pra polícia que foi ela quem levou o carro de Alexandre até contagem e abandonado o veículo em um motel. A tentativa de homicídio seria uma queima de arquivo, pois o motorista teria sido flagrado por câmeras de um pedágio.
Foi a partir dessa ocorrência que a polícia chegou até o imóvel onde o corpo foi encontrado. Os Bombeiros deram apoio à polícia e os trabalhos duraram cerca de cinco horas até que o concreto fosse quebrado e o corpo desenterrado. Vizinhos acompanharam assustados.
Peritos estiveram no local e encaminharam o corpo para o Instituto Médico Legal de Montes Claros. Conforme a perícia preliminar, o corpo estava com a mesma roupa que Alexandre usava no dia em que desapareceu.
Sobre Alexandre
Alexandre foi réu em um processo por uma suposta participação em um homicídio em 2011, mas foi absolvido, conforme o advogado que o defendia. Na época, Alexandre que era conhecido como “Xandão dos Morrinhos” não exercia ainda a advocacia e escutas telefônicas sobre crimes ocorridos na cidade teriam sido interceptadas. Ele chegou a ser preso na “Operação Carcará” que prendeu 12 nomes conhecidos do crime na época em que Montes Claros teria registrado 108 homicídios no ano. Nessa operação foram presos nomes como Denison de Oliveira Araújo, o “Minhoca”; Elton Junior Carlos Veloso, o “Juninho”; Washington César Barbosa;, Alan Rodrigues Santos Rocha, o “Neguinho”; Leandro Silva Rezende, o “Leo Caju”; Alvilmar Marcos Barbosa Santos, o “Marcão do Morrinhos”; Denis Leite Barretos Silva; Aguinaldo Afonso Pereira Junior, o “Pai Cura”; Marcelo Edson Souza Santos; Marcos Aurélio Dias Nascimento; Edvaldo Rocha Sales e Alexandre Mauro Barra Oliveira, o “Xandão”, além de um adolescente.
Atualmente, Alexandre respondia por tráfico e uso de drogas. Um terceiro processo, por roubo majorado, teria prescrito. Até o momento, a polícia não informou se os processos teriam ligação com o homicídio e os suspeitos presos também não informaram a motivação do crime. As investigações vão continuar e a polícia não descarta a participação de outras pessoas no assassinato.
Uma das linhas de investigação é de que Xandão poderia estar atuando como agiota e os suspeitos estariam devendo dinheiro para ele. A OAB informou que não acredita que a atuação dele como advogado criminalista seja um dos motivos do crime.