Se tem uma coisa que a política ensina é que briga feia de hoje pode ser o brinde de amanhã. E parece que Carlos Pimenta entendeu direitinho essa lição. Depois de anos apoiando e estendendo o tapete para o grupo de Humberto Souto, o ex-deputado, que virou crítico feroz da administração municipal durante a campanha eleitoral 2024, resolveu abrir as portas de sua casa e receber calorosamente ninguém menos que o prefeito Souto e sua inseparável primeira-dama, Terezinha Mangabeira.
Pimenta, que durante a campanha parecia mais disposto a lançar fogo do que flores na direção do grupo do prefeito, agora troca sorrisos, taças e, pelo visto, até a sobremesa com o casal Souto. Terezinha, aliás, fez questão de registrar o momento nas redes sociais com a legenda amistosa de “confraternização entre amigos”. Amigos? Mas, ué, não foi o mesmo Carlos Pimenta que passou a eleição inteira reclamando da saúde de Montes Claros, comandada por sua própria prima, Dulce Pimenta, secretária de saúde alvo de tantas críticas que poderia até montar uma antologia?
E o mais intrigante é que Pimenta não economizou adjetivos para “desconstruir” a gestão que ele mesmo apoiou durante anos. Quem não lembra dos discursos carregados de indignação? Até parecia que ele ia até o fim com sua insatisfação. Mas agora, ao que tudo indica, a máxima do “o que acontece na política, fica na política” virou um mantra para o ex-deputado.
Será arrependimento? Um gesto de reconciliação? Ou seria só aquela boa e velha política de conveniência, onde as alianças se dissolvem e se refazem com a mesma facilidade com que se troca o cardápio de um jantar? Fato é que os eleitores, especialmente aqueles que compraram a briga ao lado de Pimenta contra Souto, devem estar coçando a cabeça, tentando entender se o prato principal foi mesmo o jantar ou a velha receita da política mineira.
E Dulce Pimenta, onde fica nisso tudo? Será que ela também estava no jantar, ocupando o lugar cativo de alvo preferido das críticas de Carlos? Ou será que ela, como mal avaliada profissional de saúde, está só observando de longe esse novo “diagnóstico” de amnésia política que tomou conta do primo?
No final, a moral da história parece ser que, em política, o céu e o inferno podem ser servidos na mesma mesa. E, com certeza, Carlos Pimenta e Humberto Souto estão aproveitando a sobremesa. Afinal, brigas e alianças vêm e vão, mas um bom jantar entre amigos – ou adversários – é para sempre. Ou até a próxima eleição.