7 de janeiro, 2025

Doença é a quarta maior causa de morte no país - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O Brasil deu um passo significativo para eliminar o câncer de colo de útero como problema de saúde pública. Um novo plano nacional focado no rastreamento, tratamento e vacinação contra o HPV foi apresentado, com a ambiciosa meta de transformar essa grave doença em um problema residual dentro de duas décadas.

Atualmente, o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de tumor mais prevalente entre as mulheres brasileiras e a quarta maior causa de mortes, com cerca de 17 mil novos casos e 7 mil óbitos anuais. Quase 100% dos casos estão ligados à infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), principalmente pelos tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos diagnósticos.

Mudanças no diagnóstico: novo teste e autocoleta

Uma das principais inovações do plano é a substituição do exame citopatológico, conhecido como papanicolau, por testes moleculares para diagnóstico do HPV no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Roberto Gil, diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), esses novos testes identificam com maior precisão a persistência do vírus, o que é crucial para evitar o desenvolvimento de lesões precursoras do câncer.

Resultados de modelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os testes moleculares podem reduzir em 46% os casos de câncer e em 51% a mortalidade pela doença. O público-alvo do rastreio inclui mulheres de 25 a 64 anos, especialmente as que nunca realizaram exames preventivos.

Além disso, o plano introduz o sistema de autocoleta, permitindo que as próprias pacientes colham o material em casa, reduzindo barreiras como o constrangimento em consultas ginecológicas. A novidade já está sendo testada em Pernambuco e São Paulo e deve ser expandida, especialmente para as regiões Norte e Nordeste, que apresentam os maiores índices de mortalidade.

Desafios no tratamento e regionalidades

Embora a lei brasileira determine o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico, atrasos ainda são frequentes. No Norte do país, 65% das pacientes só começam a tratar a doença após esse prazo, o que eleva a taxa de mortalidade na região para 15%, muito acima da média nacional de 6%.

Para atender às metas da OMS, o Brasil precisará expandir em 56% o número de colposcopias e em mais de 600% as biópsias realizadas, garantindo o diagnóstico precoce e o tratamento imediato das lesões precursoras.

Vacinação como pilar central

Erradicar o câncer de colo de útero depende, sobretudo, da prevenção de novas infecções pelo HPV por meio da vacinação. O SUS já oferece imunização para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de pessoas imunodeprimidas e vítimas de violência sexual. A meta é vacinar 90% desse público-alvo, mas a cobertura ainda é desigual: enquanto o Paraná imunizou mais de 96% das meninas, o Acre alcançou menos de 43%.

Desde abril, o Brasil adota o esquema vacinal de dose única, facilitando a adesão e a imunização completa. Uma nova ferramenta lançada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) permitirá monitorar a cobertura vacinal em cada faixa etária. Apesar de avanços, a vacinação de meninos preocupa, com uma cobertura média de apenas 56,9%.

Para o próximo ano, o PNI priorizará ações em municípios com baixa cobertura, especialmente no Norte e Nordeste, além de reforçar campanhas educativas sobre a importância da vacinação.

O futuro da luta contra o câncer de colo

Com os avanços no diagnóstico e na vacinação, especialistas acreditam que o Brasil pode atender à meta da OMS de eliminar o câncer de colo de útero. “Se conseguirmos rastrear 70% das mulheres com testes de alta performance e tratar 90% dos casos positivos rapidamente, estaremos no caminho para transformar essa realidade”, conclui Roberto Gil.

O novo plano marca um avanço na saúde pública brasileira, reforçando o compromisso com a equidade e o direito ao diagnóstico e tratamento para todas as mulheres.

*Com informações de Agência Brasil

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