Um estudo inovador sobre o tratamento de fístulas carotídeo-cavernosas, uma condição rara e potencialmente grave, foi recentemente publicado na Neuroradiology, uma das mais renomadas revistas científicas do mundo na área. Classificada como Q1, a revista é reconhecida por publicar artigos com alto impacto, que recebem grande atenção da comunidade científica global. O artigo traz à tona uma abordagem ousada e inovadora para o tratamento desta condição, que pode comprometer tanto a visão quanto o sistema nervoso central.
O neurocirurgião Dr. Luís Gustavo Biondi, da Santa Casa Montes Claros, é um dos responsáveis pela pesquisa e explica a relevância do estudo. Segundo ele, a fístula carotídeo-cavernosa é uma comunicação anormal entre a artéria carótida e o seio cavernoso, uma veia importante do cérebro. Essa conexão irregular faz com que o sangue desvie seu fluxo para a fístula, privando o cérebro de oxigênio e nutrientes essenciais. “Essa condição pode levar a sintomas neurológicos graves, como perda de visão, inchaço nos olhos, dificuldades cognitivas e até comprometimento irreversível, caso o tratamento não seja adequado”, detalha o especialista.
O estudo descreve um caso particularmente desafiador, em que a técnica tradicional de embolização não foi eficaz devido à anatomia desfavorável da paciente. A embolização é um procedimento comum no tratamento de fístulas, mas, devido às peculiaridades do caso, a equipe médica precisou recorrer a uma abordagem inédita: o acesso transorbital. Por meio da punção direta da veia orbitária superior, os médicos conseguiram alcançar o ponto fistuloso localizado no seio cavernoso e realizar a embolização com sucesso.
“Inicialmente tentamos a abordagem convencional, utilizando um cateterismo pela veia femoral, mas a anatomia da paciente não permitiu essa técnica”, explica Dr. Biondi. “Optamos então pela punção da veia orbitária superior, que nos deu acesso direto ao seio cavernoso. A partir daí, conseguimos realizar o procedimento com precisão e segurança.”
A pesquisa não apenas apresenta essa estratégia inovadora, mas também fornece um detalhamento passo a passo do procedimento, além de uma revisão da literatura global sobre o tema. O objetivo dos pesquisadores é expandir as opções terapêuticas para médicos que enfrentam desafios semelhantes, oferecendo uma nova alternativa para casos complexos.
Maurício Sérgio Sousa e Silva, superintendente da Santa Casa Montes Claros, destaca a importância dessa publicação para a medicina. “A pesquisa reforça a relevância da personalização do cuidado médico e o avanço das técnicas minimamente invasivas na neurocirurgia. Este estudo representa um marco na superação de desafios anatômicos e tecnológicos na área da neurorradiologia intervencionista”, afirma.
Além de Dr. Luís Gustavo Biondi, o estudo conta com a colaboração dos médicos Filipi Fim Andreão, Felipe Salvagni Pereira, Dmitriy Sergeyevich Korotkov, Luis F. Fabrini Paleare, Leonardo Rocha-Carneiro García-Zapata e Leandro Assis Barbosa. Juntos, eles propõem uma nova fronteira no tratamento de fístulas carotídeo-cavernosas, demonstrando o poder da inovação e da pesquisa científica no avanço da medicina.
Este artigo promete ser um divisor de águas, proporcionando novas alternativas e estratégias para médicos e pacientes enfrentando essa condição rara e complexa.
Confira o artigo original aqui: https://link.springer.com/article/10.1007/s00234-025-03545-w